domingo, 24 de março de 2013

Estados Nacionais Modernos




As monarquias nacionais centralizaram o poder político na figura de um rei.


No decorrer da Idade Média, a figura política do rei era bem distante daquela que usualmente costumamos imaginar. O poder local dos senhores feudais não se submetia a um conjunto de leis impostas pela autoridade real. Quando muito, um rei poderia ter influência política sobre os nobres que recebiam parte das terras de suas propriedades. No entanto, o reaquecimento das atividades comerciais, na Baixa idade Média, transformou a importância política dos reis.

A autoridade monárquica se estendeu por todo um território definido por limites, traços culturais e linguísticos que perfilavam a formação de um Estado Nacional. Para tanto, foi preciso superar os obstáculos impostos pelo particularismo e universalismo político que marcaram toda a Idade Média. O universalismo manifestava-se na ampla autoridade da Igreja, constituindo a posse sobre grandes extensões de terra e a imposição de leis e tributos próprios. Já o particularismo desenvolveu-se nos costumes políticos locais enraizados nos feudos e nas cidades comerciais.

Os comerciantes burgueses surgiram enquanto classe social interessada na formação de um regime político centralizado. As leis de caráter local, instituídas em cada um dos feudos, encareciam as atividades comerciais por meio da cobrança de impostos e pedágios que inflacionavam os custos de uma viagem comercial. Além disso, a falta de uma moeda padrão instituía uma enorme dificuldade no cálculo dos lucros e na cotação dos preços das mercadorias.

Além disso, a crise das relações servis causou um outro tipo de situação favorável à formação de um governo centralizado. Ameaçados por constantes revoltas – principalmente na Baixa Idade Média – e a queda da produção agrícola, os senhores feudais recorriam à autoridade real com o intuito de formar exércitos suficientemente preparados para conter as revoltas camponesas. Dessa maneira, a partir do século XI, observamos uma gradual elevação das atribuições políticas do rei.

Para convergir maiores poderes em mãos, o Estado monárquico buscou o controle sobre questões de ordem fiscal, jurídica e militar. Em outros termos, o rei deveria ter autoridade e legitimidade suficientes para criar leis, formar exércitos e decretar impostos. Com esses três mecanismos de ação, as monarquias foram se estabelecendo por meio de ações conjuntas que tinham o apoio tanto da burguesia comerciante, quanto da nobreza feudal.

Com o apoio dos comerciantes, os reis criaram exércitos mercenários que tinham caráter essencialmente temporário. Ao longo dos anos, a ajuda financeira dos comerciantes tratou de formar as milícias urbanas e as primeiras infantarias. Tal medida enfraqueceu a atuação dos cavaleiros que limitavam sua ação militar aos interesses de seu suserano. A formação de exércitos foi um passo importante para que os limites territoriais fossem fixados e para que fosse possível a imposição de uma autoridade de ordem nacional.

A partir de então, o rei acumulava poderes para instituir tributos que sustentariam o Estado e, ao mesmo tempo, regulamentaria os impostos a serem cobrados em seu território. Concomitantemente, as moedas ganhariam um padrão de valor, peso e medida capaz de calcular antecipadamente os ganhos obtidos com o comércio e a cobrança de impostos. A fixação de tais mudanças personalizou a supremacia política dos Estados europeus na figura individual de um rei.

Além de contar com o patrocínio da classe burguesa, a formação das monarquias absolutistas também contou com apoio de ordem intelectual e filosófica. Os pensadores políticos da renascença criaram importantes obras que refletiam sobre o papel a ser desempenhado pelo rei. No campo religioso, a aprovação das autoridades religiosas se mostrava importante para que os antigos servos agora se transformassem em súditos à autoridade de um rei.
Por Rainer Sousa
Graduado em História

Guerra dos Cem Anos



Guerra dos Cem Anos: uma disputa entre ingleses e franceses por territórios e poder econômico.


Guerra dos Cem Anos: uma disputa entre ingleses e franceses por territórios e poder econômico.

Do ponto de vista histórico, podemos ver que a Guerra dos Cem Anos foi um evento que marcou o processo de formação das monarquias nacionais inglesa e francesa. Não por acaso, vemos que esse conflito girou em torno dos territórios e impostos que eram tão necessários ao fortalecimento de qualquer monarquia daquela época. Sendo assim, vemos que tal evento manifesta significativamente a centralização política que se desenvolveu nos fins da Idade Média.

Iniciada em 1337, a Guerra dos Cem Anos foi deflagrada quando o trono francês esteve carente de um herdeiro direto. Aproveitando da situação, o rei britânico Eduardo III, neto do monarca francês Felipe, O Belo (1285 – 1314), reivindicou o direito de unificar as coroas inglesa e francesa. Dessa forma, a Inglaterra incrementaria seus domínios e colocaria um conjunto de prósperas cidades comerciais sob o seu domínio político, principalmente da região de Flandres.

Nessa época, os comerciantes de Flandres apoiaram a ação britânica por terem laços comerciais francamente estabelecidos com a Inglaterra. Por conta desse apoio, os ingleses venceram as primeiras batalhas e conseguiram o controle de alguns territórios do Norte da França. Até aquele instante, observando a superioridade numérica e bélica dos ingleses, era possível apostar na queda da monarquia francesa. Contudo, a decorrência da Peste Negra impôs uma pausa aos dois lados da guerra.

As batalhas só foram retomadas em 1356, quando a Inglaterra conquistou novas regiões e contou com apoio de alguns nobres franceses. No ano de 1360, a França se viu obrigada a assinar o Tratado de Brétigny. Pelo documento, a Inglaterra oficializava o seu domínio sobre parte da França e recuperava alguns territórios inicialmente tomados pelos franceses.

A ruína causada pela guerra provocou grandes problemas aos camponeses franceses. A falta de recursos, os pesados tributos e as fracas colheitas motivaram as chamadas jacqueries. Nesse instante, apesar dos episódios de violência contra a nobreza, os exércitos da França reorganizaram suas forças militares. Realizando a utilização de exércitos mercenários, o rei Carlos V conseguiu reaver uma parcela dos territórios perdidos para a Inglaterra.

Nas últimas décadas do século XIV, os conflitos tiveram uma pausa em virtude de uma série de revoltas internas que tomaram conta da Inglaterra. Apesar da falta de guerra, uma paz definitiva não havia sido protocolada entre os ingleses e franceses. No ano de 1415, o rei britânico Henrique V retomou a guerra promovendo a recuperação da porção norte da França. Mais do que isso, através do Tratado de Troyes, ele garantiu para si o direito de suceder a linhagem da monarquia francesa.

Em 1422, a morte de Carlos VI da França e de Henrique V da Inglaterra fizeram com que o trono francês ficasse sob a regência da irmã de Carlos VI, então casada com o rei Henrique V da Inglaterra. Nesse meio tempo, os camponeses da França se mostraram extremamente insatisfeitos com a dominação estrangeira promovida pela Inglaterra. Foi nesse contexto de mobilização popular que a emblemática figura de Joana D’Arc apareceu.

Alegando ter sido designada por Deus para dar fim ao controle inglês, a camponesa Joana D'Arc mobilizou as tropas e populações locais. Aproveitando do momento, o rei Carlos VII mobilizou tropas e passou a engrossar e liderar os exércitos que mais uma vez se digladiaram contra a Inglaterra. Nesse instante, temendo o fortalecimento de uma liderança popular, os nobres franceses arquitetam a entrega de Joana D'Arc para os britânicos.

No ano de 1430, Joana D'Arc foi morta na fogueira sob a acusação de bruxaria. Mesmo com a entrega da heroína, os franceses conseguiram varrer a presença britânica na porção norte do país. Em 1453, um tratado de paz que encerrava a Guerra dos Cem Anos foi assinado.
Por um lado, a guerra foi importante para se firmar o ideal de nação entre os franceses. Por outro, abriu caminho para que novas disputas alterassem a situação da monarquia inglesa.

Por Rainer Sousa
Mestre em História



Oliver Crowmell


A chegada dos Stuart ao trono significou uma grande transformação no cenário político da Inglaterra. Abandonando as medidas liberais dos Tudor, o recém-entronizado rei Jaime I era favorável ao poder monárquico absoluto. Além disso, tinha apreço pelos praticantes do catolicismo, ao enxergar nesses uma classe religiosa favorável ao inquestionável poder real.

Pretendendo implantar tais orientações políticas, Jaime I defendia que a dominação britânica sob a Irlanda deveria ser feita sob moldes feudais. Além disso, buscou exercer o monopólio sob a produção têxtil inglesa. Com isso, visava enriquecer os cofres reais e configurar uma forte influência política independente da aprovação do Parlamento inglês. No campo religioso, enfatizou as diretrizes católicas do anglicanismo e privilegiou os súditos católicos.

Morrendo em 1625, Jaime I deixou o trono para seu filho Carlos I. Durante seu reinado, foi obrigado a convocar o Parlamento para a aprovação de gastos com conflitos e guerras. Hostilizado pela instituição, foi pressionado a assinar a Petição de Direitos. Nesse documento, o rei se comprometia a prestar contas ao Parlamento e colocar as questões financeiras e militares sob o domínio da instituição. Indiferente a tais exigências, o rei preferiu dissolver o Parlamento britânico.

Anos mais tarde, Carlos I resolveu restabelecer um antigo tributo: o Ship Money. Esse imposto, que antes era cobrado em algumas zonas portuárias, deveria ser cobrado em todo o território inglês. Tal lei desfavorecia a burguesia, que seria obrigada a limitar seus lucros frente ao tributo real. Forçado por uma guerra a convocar o Parlamento em 1640, o rei mais uma vez levou à tona o conflito existente entre a sua autoridade e o interesse parlamentar.

Nesse momento, o Parlamento radicalizou sua postura exigindo total controle sobre as questões religiosas e tributárias. Além disso, reivindicou a constante convocação das autoridades parlamentares. Em resposta, Carlos I ameaçou mais uma vez extinguir as autoridades parlamentares. Inconformada com a imposição monárquica, os líderes do Parlamento convocaram a formação de uma milícia armada que garantisse a existência do parlamento britânico. Era o início da Revolução Puritana.

Protegendo-se da reação popular, Carlos I dirigiu-se à cidade de Oxford com intuito de organizar um exército capaz de combater as tropas do parlamento. Dessa forma, estabeleceu-se uma guerra civil onde as tropas reais enfrentavam as frentes populares armadas pelo parlamento. Esses populares, de maioria puritana (calvinistas), formaram um grande exército que via na luta um meio de superar suas dificuldades econômicas. Nomeados como integrantes do Exército de Novo Tipo, esses populares começaram a se inserir no processo revolucionário inglês.

Liderados por Oliver Cromwell, os combatentes revolucionários dividiram-se em duas facções políticas: os diggers e os levellers. Os primeiros defendiam uma reforma agrária espontânea que garantisse o acesso dos camponeses à terra. Já o levellers buscavam a total igualdade jurídica entre os cidadãos e a liberdade de culto religioso. Dessa maneira, as camadas populares inglesas se fizeram presentes no debate político da época.

As vitórias dos exércitos de Cromwell nas batalhas de Marston Moor e Naseby figuraram um importante passo para a conquistas dos ideais democráticos defendidos pelos diggers e levellers. No momento em que os mais moderados arquitetavam a desmobilização do exército de Novo Tipo, as tropas foram convocadas a lutarem mais uma vez contra as tropas da realeza. Nesse confronto, o rei Carlos I foi capturado e decapitado, em janeiro de 1649.

Exercendo grande hegemonia política, os exércitos decretaram o fim da monarquia inglesa e a proclamação de um governo republicano. Nesse novo governo, os moderados foram excluídos do parlamento e Oliver Cromwell foi aclamado como presidente do novo Conselho de Estado ou Commonwealth. Acumulando poderes políticos em mãos, Cromwell não atendeu às exigências do exército que o colocou no poder. Dessa maneira, implementou uma ditadura que excluiu os populares das instituições políticas.

Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

Revolução Gloriosa






Após a deposição de Richard Cromwell, uma nova organização foi dada ao poder político britânico. Com o apoio de partidários da realeza e setores descontentes com a ditadura de Cromwell, um novo parlamento aprovou a chegada do rei Carlos II ao trono inglês. Tal período da Revolução Inglesa acabou conhecido como a fase da Restauração Monárquica.

Essa volta do antigo regime político, apoiado pela aristocracia e pela alta burguesia, visava à contenção de novos tumultos sociais que radicalizassem o processo revolucionário britânico. Inicialmente, o governo de Carlos II vislumbrou a expansão das atividades comerciais e industriais inglesas. No entanto, as velhas rixas entre o rei e o Parlamente continuavam a aparecer no cenário político inglês.

Tendo seus poderes limitados pela ação parlamentar, o rei Carlos II mantinha relações políticas com o rei francês Luis XIV, um dos mais poderosos reis absolutistas da Europa. Olhado com desconfiança pelo parlamento inglês, o rei Carlos II ainda decretou novos planos de ação econômica que ampliavam a burguesia britânica. Em 1673, o parlamento instituiu a Lei do Teste, que negava qualquer católico de assumir algum cargo no serviço público.

Em 1685, o rei Carlos II faleceu e seu irmão, Jaime II, chegou ao trono. Sendo fiel ao catolicismo, Jaime II tentou ampliar seus poderes e beneficiar a população católica da Inglaterra. No início de seu governo, ele tentou isentar os católicos das cobranças de impostos e colocar alguns de seus próximos em importantes cargos políticos. Dando aparência autoritária ao seu governo, Jaime II sofreu violenta oposição do parlamento.

Maria Stuart, filha de Jaime II, foi convocada a comparecer ao Parlamento. Nessa reunião, os parlamentares tramaram a ascensão de Guilherme de Orange, governador das Províncias Unidas (Holanda) e marido de Maria Stuart, para assumir o trono inglês. Acuado com o golpe do parlamento, o rei Jaime II buscou refúgio na França. Sem contar com nenhum tipo de violência, a nova mudança política ficou conhecida como Revolução Gloriosa.

Inaugurando um novo episódio na história política britânica, o Parlamento abriu espaço para a introdução de uma ordem liberal burguesa. Dotado de caráter liberal, o novo rei inglês chegou ao trono aceitando previamente reconhecer a Toleration Act (Ato de Tolerância) e a Bill of Rights (Declaração de Direitos). Ambos os documentos foram redigidos pelo parlamento inglês e foram de importância fundamental para o desenvolvimento do capitalismo na Inglaterra.

O primeiro estabelecia liberdade religiosa a todos os cidadãos cristãos, exceto os católicos. Já a Bill of Rights consistia em um conjunto de leis que previa uma série de mudanças de característica liberal. A partir de então, todos os cidadãos acusados de alguma infração teriam direito a um julgamento com a presença de um júri. Além disso, este documento previa o repúdio a punições violentas ou multas com valores abusivos.

A principal mudança imposta pela Bill of Rights tratava da relação entre o rei e o Parlamento. As eleições parlamentares deveriam acontecer regularmente. Além disso, nenhuma lei parlamentar poderia ser vetada pela autoridade real e, após a morte do rei, o Parlamento poderia indicar o sucessor do trono inglês. Os gastos da família real deveriam ser controlados pelo Parlamento e nenhum exército poderia ser mantido em tempos de paz.

Os altos funcionários do governo também deveriam ser fiscalizados pelos parlamentares. O Tesouro britânico era controlado pelo Parlamento e nenhum gasto deveria ser feito sem sua aprovação. Em 1694, o governo criou o Banco da Inglaterra, que consolidou o financiamento das atividades comerciais e industriais britânicas. Essas novas medidas encerravam o processo revolucionário inglês e firmavam o pioneirismo industrial britânico.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

Oliver Crowmell








No ano de 1649, a chegada de Cromwell ao poder, inicialmente representou a possibilidade de instalação de um governo popular na Inglaterra. No entanto, ao assumir o governo da Inglaterra, o líder do Conselho de Estado, ou Commonwealth, abandonou os populares que tinham lhe concedido tamanha ascensão política. A “república” de Cromwell teve, na prática, a feição de uma ditadura personalista.

Ao mesmo tempo em que combateu militarmente a reação dos monarquistas apoiados pela Coroa Escocesa, Cromwell também perseguiu e assassinou diversos líderes dos diggers e levellers. No campo econômico, esforçou-se em barrar a concorrência holandesa com a aprovação dos Atos de Navegação. Segundo essa lei, nenhuma embarcação estrangeira, exceto as provenientes do mesmo país de origem do produto, poderia atracar no litoral inglês. Com essa medida, o governo buscava recuperar a economia britânica através do benefício dos setores burgueses.

Em 1653, o Parlamento britânico fora completamente dissolvido; Oliver Cromwell alcançou a condição de Lorde Protetor da Inglaterra. Não tendo mais nenhum tipo de poder limitador, Cromwell transformou-se em um líder máximo. Gozando de direitos políticos ilimitados, cogitou-se a coroação dele enquanto rei da Inglaterra. Não querendo aparentar uma espécie de retorno ao Antigo Regime, Oliver Cromwell rejeitou tal proposta.

Centralizando os poderes, Cromwell conduziu um período mais estável no processo da revolução inglesa. Tendo poderes muito próximos aos de um monarca, Oliver Cromwell indicou seu filho para sucedê-lo no governo. Com sua morte, em 1658, o governo caiu nas mãos de Richard Cromwell. Sem amplo apoio político, Richard acabou deposto pelo “Parlamento Coto”, em 1659.
Por Rainer Sousa
Graduado em História

Revolução inglesa


O governo de Carlos I, o início das tensões que conduziram à Revolução Inglesa.



Ao vermos a grande reverência e prestígio que as autoridades monárquicas inglesas possuem, nem chegamos perto de imaginar que esse país foi palco de um conflito contra sua realeza. No entanto, no século XVII, a ilha britânica protagonizou um dos primeiros episódios que sinalizavam a crise do Antigo Regime. Foi durante a Revolução Inglesa que as instituições nobiliárquicas foram alvo de uma violenta disputa que marcou a história política da Inglaterra.
Durante os reinados da dinastia Tudor, a Inglaterra viveu um notório desenvolvimento de sua economia. Sob a tutela do rei Henrique VIII e, posteriormente, da rainha Elizabeth I, a burguesia britânica viveu anos de intensa ascensão econômica. A formação de monopólios comerciais e o desenvolvimento de lucrativas atividades fizeram com que a parte da burguesia britânica enriquecesse rapidamente.

No entanto, os pequenos comerciantes acabaram sendo prejudicados. As vantagens da política econômica britânica beneficiavam uma parcela limitada de uma burguesia bem relacionada com as autoridades reais da época. Além disso, parte das corporações de ofício inglesas detinha o monopólio sob a produção de certos produtos manufaturados que impediam a ampliação do campo de atividades econômicas explorados pela burguesia.

No campo, a velha economia agrícola voltada ao abastecimento sofria grandes transformações. As terras passaram por um grande processo de especulação econômica decorrente da demanda da burguesia por matérias-primas. Foi nesse período que se instituiu a política dos cercamentos. Tal medida visava ampliar a disponibilidade de matéria-prima por meio da apropriação das terras coletivas e devolutas. Com isso, vários camponeses e pequenos proprietários de terra sofreram uma terrível perda que empobreceu tais setores da sociedade britânica.

Nesse contexto contraditório, onde a Inglaterra enriquecia à custa da exclusão econômica de parte da população, é que temos preparado o contexto revolucionário inglês. Além dos problemas de caráter econômico, as contendas religiosas entre católicos e protestantes dividiam a sociedade britânica em mais uma delicada questão histórica.

As tensões sociais e a situação da monarquia britânica se agravaram quando, em 1603, a dinastia Stuart chegou ao trono inglês. Influenciados por uma forte tradição católica e interessada em fixar bases mais sólidas ao absolutismo britânico, os monarcas da família Stuart acabaram alimentando disputas de caráter econômico e religioso. Dessa forma, foi dado início às disputas entre o Parlamento, de visão liberal e composta por burgueses protestantes; e o reis da Dinastia Stuart, que eram católicos e procuravam ampliar sua autoridade política.

O autoritarismo real contribuiu para que diversos conflitos acabassem se desenvolvendo no interior da Inglaterra. Não conseguindo atingir a imposição de reformas que acabassem com os problemas religiosos e econômicos, o Parlamento buscou no apoio popular a instauração de uma guerra civil que marcou as primeiras etapas do processo revolucionário inglês.

                                           CARTA MAGNA
 No processo de constituição das monarquias nacionais europeias, a prerrogativa de centralização do poder político nas mãos de um único monarca parece ser regra comum a todos os Estados que se formavam naquela época. De fato, o fortalecimento das monarquias nacionais assinala a limitação dos poderes nobiliárquicos e eclesiásticos em favor do fortalecimento da autoridade real. Contudo, não podemos concluir que essa fosse uma experiência desenvolvida igualitariamente em todas as regiões da Europa.

Quando nos aportamos para a formação da monarquia britânica, notamos que a autoridade monárquica enfrentou dificuldades para se estabelecer. No século XII, a ascensão da dinastia Plantageneta, que teve como primeiro rei Henrique II (1154 - 1189), foi fundamental para que leis de caráter nacional pudessem efetivamente legitimar a ampliação dos poderes reais. Entre outras ações, esta dinastia foi responsável pela criação da common law, conjunto de leis válido em todo o território britânico.

Contudo, a supremacia real deu seus primeiros sinais de desgaste no reinado de Ricardo Coração de Leão (1189 - 1199), que foi marcado pelo envolvimento do Estado em diversos conflitos militares contra a França e participou ativamente na organização da Terceira Cruzada (1189-1192). As longas ausências da autoridade monárquica e o alto custo gerado nestas guerras acabaram despertando a insatisfação dos nobres ingleses com relação ao rei.

O abalo na relação entre os nobres e a autoridade real só veio a ganhar força durante o governo de João Sem-Terra (1199 - 1216). Entre outros motivos, podemos apontar que o rei João acabou politicamente desgastado por conta do seu envolvimento em novos conflitos militares, a elevação dos impostos cobrados sob a população e a tentativa de impor a taxação das propriedades eclesiásticas. Dessa forma, os nobres organizaram um levante que colocaria a autoridade real em risco.

Para que não fosse deposto, o rei João Sem-Terra aceitou acatar as determinações impostas pela Magna Carta, documento de 1215 que viria a remodelar o papel do rei na Inglaterra. Entre outras disposições, a nova lei dizia que o rei não poderia mais criar impostos ou alterar as leis sem antes consultar o Grande Conselho, órgão que seria integrado por representantes do clero e da nobreza. Além disso, nenhum súdito poderia ser condenado a prisão sem antes passar por um processo judicial.

Dessa maneira, podemos compreender que, ao longo de sua trajetória, o Estado monárquico britânico nunca chegou a se enquadrar plenamente nos moldes do regime absolutista. Não por acaso, por meio dos dispositivos criados pela Magna Carta, foi que os membros do Parlamento (sucessor do Grande Conselho) deram origem à monarquia constitucional que sagra o desenvolvimento da Revolução Inglesa, acontecimento histórico que assinala a crise do Antigo Regime Europeu.
 Por Rainer Sousa
Mestre em História

quarta-feira, 20 de março de 2013

Pinturas rupestres


   Pinturas Rupestres ou Parietais - Primeiras manifestações dos homens pré-históricos.

As grandes navegações


Introdução
Durante os séculos XV e XVI, os europeus, principalmente portugueses e espanhóis, lançaram-se nos oceanos Pacífico, Índico e Atlântico com dois objetivos principais : descobrir uma nova rota marítima para as Índias e encontrar novas terras. Este período ficou conhecido como a Era das Grandes Navegações e Descobrimentos Marítimos.
Os objetivos
No século XV, os países europeus que quisessem comprar especiarias (pimenta, açafrão, gengibre, canela e outros temperos), tinham que recorrer aos comerciantes de Veneza ou Gênova, que possuíam o monopólio destes produtos. Com acesso aos mercados orientais - Índia era o principal - os burgueses italianos cobravam preços exorbitantes pelas especiarias do oriente. O canal de comunicação e transporte de mercadorias vindas do oriente era o Mar Mediterrâneo, dominado pelos italianos. Encontrar um novo caminho para as Índias era uma tarefa difícil, porém muito desejada. Portugal e Espanha desejavam muito ter acesso direto às fontes orientais, para poderem também lucrar com este interessante comércio.
Um outro fator importante, que estimulou as navegações nesta época, era a necessidade dos europeus de conquistarem novas terras. Eles queriam isso para poder obter matérias-primas, metais preciosos e produtos não encontrados na Europa. Até mesmo a Igreja Católica estava interessada neste empreendimento, pois, significaria novos fiéis.
Os reis também estavam interessados, tanto que financiaram grande parte dos empreendimentos marítimos, pois com o aumento do comércio, poderiam também aumentar a arrecadação de impostos para os seus reinos. Mais dinheiro significaria mais poder para os reis absolutistas da época (saiba mais em absolutismo e mercantilismo).
Pioneirismo português
Portugal foi o pioneiro nas navegações dos séculos XV e XVI devido a uma série de condições encontradas neste país ibérico. A grande experiência em navegações, principalmente da pesca de bacalhau, ajudou muito Portugal. As caravelas, principal meio de transporte marítimo e comercial do período, eram desenvolvidas com qualidade superior à de outras nações. Portugal contou com uma quantidade significativa de investimentos de capital vindos da burguesia e também da nobreza, interessadas nos lucros que este negócio poderia gerar. Neste país também houve a preocupação com os estudos náuticos, pois os portugueses chegaram a criar até mesmo uma centro de estudos : A Escola de Sagres.
Planejamento das Navegações
Navegar nos séculos XV e XVI era uma tarefa muito arriscada, principalmente quando se tratava de mares desconhecidos. Era muito comum o medo gerado pela falta de conhecimento e pela imaginação da época. Muitos acreditavam que o mar pudesse ser habitado por monstros, enquanto outros tinham uma visão da terra como algo plano e , portanto, ao navegar para o "fim" a caravela poderia cair num grande abismo.
Dentro deste contexto, planejar a viagem era de extrema importância. Os europeus contavam com alguns instrumentos de navegação como, por exemplo: a bússola, o astrolábio e a balestilha. Estes dois últimos utilizavam a localização dos astros como pontos de referência.
Também era necessário utilizar um meio de transporte rápido e resistente. As caravelas cumpriam tais objetivos, embora ocorressem naufrágios e acidentes. As caravelas eram capazes de transportar grandes quantidades de mercadorias e homens. Numa navegação participavam marinheiros, soldados, padres, ajudantes, médicos e até mesmo um escrivão para anotar tudo o que acontecia durantes as viagens.
Navegações portuguesas e os descobrimentos
No ano de 1498, Portugal realiza uma das mais importantes navegações: é a chegada das caravelas, comandadas por Vasco da Gama às Índias. Navegando ao redor do continente africano, Vasco da Gama chegou à Calicute e pôde desfrutar de todos os benefícios do comércio direto com o oriente. Ao retornar para Portugal, as caravelas portuguesas, carregadas de especiarias, renderam lucros fabulosos aos lusitanos.
Outro importante feito foi a chegada das caravelas de Cabral ao litoral brasileiro, em abril de 1500. Após fazer um reconhecimento da terra "descoberta", Cabral continuou o percurso em direção às Índias.
Em função destes acontecimentos, Portugal tornou-se a principal potência econômica da época.
Navegações Espanholas
A Espanha também se destacou nas conquistas marítimas deste período, tornando-se, ao lado de Portugal, uma grande potência. Enquanto os portugueses navegaram para as Índias contornando a África, os espanhóis optaram por um outro caminho. O genovês Cristovão Colombo, financiado pela Espanha, pretendia chegar às Índias, navegando na direção oeste. Em 1492, as caravelas espanholas partiram rumo ao oriente navegando pelo Oceano Atlântico. Colombo tinha o conhecimento de que nosso planeta era redondo, porém desconhecia a existência do continente americano. Chegou em 12 de outubro de 1492 nas ilhas da América Central, sem saber que tinha atingido um novo continente. Foi somente anos mais tarde que o navegador Américo Vespúcio identificou aquelas terras como sendo um continente ainda não conhecido dos europeus. Em contato com os índios da América ( maias, incas e astecas ), os espanhóis começaram um processo de exploração destes povos, interessados na grande quantidade de ouro. Além de retirar as riquezas dos indígenas americanos, os espanhóis destruíram suas culturas.

população mineira e brasileira e suas origens


s raças formadoras da população brasileira

Viajando pelo mundo, em contato com tantas gentes, fica fácil notar como a humanidade é composta de muitas populações (raças) que habitam regiões diferentes e se distinguem pela freqüência com que nelas ocorrem certos traços hereditários. Em cada nação as pessoas possuem aspectos físicos característicos e definidores daqueles que nascem ali.
E, embora se observe nos tipos humanos feições físicas similares, não se pode dizer que exista um grupo racialmente puro. Isso porque as populações contemporâneas são o resultado de um prolongado processo de miscigenação, cuja intensidade variou ao longo do tempo.
No Brasil, entre o século XVI ao XVIII, em aproximadamente 15 gerações, consolidou-se a estrutura genética da população brasileira, com o entrecruzamento de africanos, europeus e índios. Ainda, no período colonial, franceses, holandeses e ingleses tentaram se estabelecer em território brasileiro e deixaram alguma contribuição étnica, embora restrita. Assim, de uma mistura de raças, em clima tropical, têm-se os povos do Brasil, uma gente bem diferente daquelas outras do resto do mundo.
As três raças básicas formadoras da população brasileira são o negro, o europeu e o índio, em graus muito variáveis de mestiçagem e pureza. A miscigenação no Brasil deu origem a três tipos fundamentais de mestiço: Caboclo = branco + índio; Mulato = negro + branco; Cafuzo = índio + negro.
Indagam-se, agora, quem eram os povos que formaram a população brasileira?
Eles eram assim.
Brancos
São povos europeus, na maior parte portugueses, que trouxeram um complicado caldeamento de lusitanos, romanos, árabes e negros, que habitaram Portugal. Os demais grupos, vindos em grande número para o Brasil, em diversas épocas italianos, espanhóis, alemães, eslavos, sírios também tiveram mestiçagem semelhante.
A partir de então, a migração tornou-se mais constante. O movimento de portugueses para o Brasil foi relativamente pequeno no século XVI, mas cresceu durante os cem anos seguintes e atingiu cifras expressivas no século XVIII. Embora o Brasil fosse, no período, um domínio de Portugal, esse processo tinha, na realidade, sentido de imigração. Assim, o Brasil é o país de maior população branca do mundo tropical.
Negros
Povos africanos trazidos para o Brasil como escravos, do século XVI até metade do século XIX (1850). Vieram destinados à lavoura canavieira, à mineração e à lavoura cafeeira. Pertenciam a dois grandes grupos: os sudaneses e os bantos. Os primeiros, geralmente altos e de cultura mais elaborada, foram, sobretudo, para a Bahia.
Os bantos, originários de Angola e Moçambique, predominaram na zona da mata nordestina, Rio de Janeiro, Minas Gerais. Por fim, os africanos espalharam-se por todo o território brasileiro, em engenhos de açúcar, fazendas de criação, arraiais de mineração, sítios extrativos, plantações de algodão, fazendas de café e áreas urbanas. Sua presença projetou-se em toda a formação humana e cultural do Brasil, com técnicas de trabalho, música e danças, práticas religiosas, alimentação e vestimentas.
Índios
Os indígenas brasileiros pertencem aos grupos chamados paleoameríndios, que provavelmente migraram em primeiro lugar para o Novo Mundo. Estavam no estádio cultural neolítico (pedra polida). Agrupam-se em quatro troncos lingüísticos principais: 1 - tupi; 2 - jê ou tapuia; 3 - caraíba ou karib; 4 - aruaque ou nu-aruaque.
Há, além disso, pequenos grupos lingüísticos, dispersos entre esses maiores, como os pano, tucano, bororo e nhambiquara. Atualmente os índios acham-se reduzidos a uma população de algumas dezenas de milhares, instalados, sobretudo, nas reservas indígenas da Amazônia, Centro-Oeste e Nordeste.
Os principais grupos de imigrantes no Brasil são portugueses, italianos, espanhóis, alemães e japoneses, que representam mais de oitenta por cento do total. Até o fim do século XX, os portugueses aparecem como grupo dominante, com mais de trinta por cento, o que é natural, dada sua afinidade com a população brasileira.
São os italianos, em seguida, o grupo que tem maior participação no processo migratório, com quase trinta por cento do total, concentrados, sobretudo, no estado de São Paulo, onde se encontra a maior colônia italiana do país. Seguem-se os espanhóis, com mais de dez por cento, os alemães, com mais de cinco, e os japoneses, com quase cinco por cento do total de imigrantes. Toda essa gente também participa do processo de mistura racial no Brasil.
Assim, nós brasileiros, segundo o mestre Darcy Ribeiro, somos um povo em ser, impedido de sê-lo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado.
Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Do branco, negro e do índio juntaram-se os mestiços na composição étnica da população brasileira, representados pelos caboclos (descendentes de brancos e ameríndios), mulatos (de brancos e negros) e cafuzos (de negros e ameríndios). E essa mistura de raças resultou, como se vê, a composição do povo brasileiro. E este povo está assim distribuído: predomina no litoral o tipo mulato e, no interior, o branco e vários mestiços.
A população é mais índia no Norte, menos branca no Nordeste, mais índia e mais branca no Centro-Oeste e menos negra no Sul. No Sudeste, historicamente a área de maior desenvolvimento, há um pouco de todas as raças. Assim é o país, um mosaico de cor e raça, enchendo os olhos e encantando todos que aqui chegam.
Fonte: www.gostodeler.com.br

A população brasileira foi formada a partir de três grupos fundamentais: o branco europeu, o negro africano e o ameríndio. Antes da chegada dos portugueses, o território era habitado por milhares de povos indígenas (sobretudo dos grupos tupi e jê ou tapuia). A partir da colonização, a maior parte da população indígena foi exterminada, dela restando hoje apenas alguns milhares de indivíduos.
Os negros africanos, pertencentes sobretudo aos grupos bantos e sudaneses, foram trazidos como escravos para trabalhar na agricultura (cana-de-açúcar, café) e na mineração (ouro e diamantes). Além dos portugueses, outros europeus também contribuíram para a formação da população brasileira, através da imigração, principalmente a partir de 1850 (alemães, italianos, espanhóis).
A miscigenação desses três grupos étnicos deu origem aos mestiços: mulatos (descendentes de brancos e negros), caboclos (de brancos e ameríndios) e cafuzos (de negros e ameríndios). Há ainda uma parte formada por descendentes de povos asiáticos, especialmente japoneses. Para a formação do contingente populacional do país, a imigração em si pouco representou (pouco mais de cinco milhões de indivíduos, desde a Independência, dos quais 3,5 milhões permaneceram no país) e praticamente cessou a partir do final da segunda guerra mundial.
Língua. Apesar da enorme extensão territorial, o português firmou-se como a língua falada no Brasil, embora com ligeiras variações do português falado em Portugal. Levando em conta as condições naturais e históricas, e as diferenciações resultantes das características culturais regionais, o português falado no Brasil é basicamente o mesmo em todo o território nacional, não se verificando a ocorrência de dialetos, mas tão-somente de variações regionais, como, por exemplo, o português falado no Rio Grande do Sul ou em algum estado do Nordeste.
Densidade Populacional
Estrutura demográfica. O Brasil é o país mais populoso da América Latina e um dos dez mais populosos do mundo. A população brasileira está distribuída desigualmente: a densidade demográfica da região Sudeste é mais de onze vezes maior que a da região Centro-Oeste; e a da região Sul é quase quinze vezes maior que a da região Norte. Até a década de 1950, a maior parte da população se encontrava no campo, dedicada às atividades agropecuárias. A partir dessa época, com a crescente industrialização, a tendência se inverteu, e, atualmente, mais de setenta por cento concentra-se nas cidades.
O crescimento demográfico também aconteceu de forma desigual. No final do século 18, o Brasil possuía pouco mais de dois milhões de habitantes. Na época da Independência, cerca de 4.500.000, para chegar a sete milhões em 1850. O primeiro censo demográfico realizado no país revelava uma população de 9.930.478 habitantes. No final do século 19, pouco mais de quatorze milhões e, em 1900, exatos 17.438.434 habitantes. No século 20, o ritmo do crescimento aumentou: de acordo com os censos demográficos, 30.635.605, em 1920; 41.236.315, em 1940; 51.944.397, em 1950; 70.070.457, em 1960; 93.139.037, em 1970; 119.002.706, em 1980; 146.825.475 habitantes em 1991. Para 1993, a população estimada era de 151.571.727 habitantes. A dinâmica demográfica do país, que vinha se caracterizando por uma alta taxa de crescimento, na década de 1990 já apresentava uma tendência declinante.

Pré história Minas Gerais







A NOVA FACE DA   Minas pré-histórica
Novas descobertas que emergem dos sítios arqueológicos e paleontológicos mineiros atraem para o Estado especialistas de renome internacional e descortinam histórias de um passado remoto, em que o território hoje ocupado por cidades era dominado por animais gigantescos ou por nossos mais antigos antepassados. Na Grande BH, as últimas descobertas da equipe do bioantropólogo Walter Neves, da USP, podem lançar luz sobre os primeiros habitantes da América. Em todo o território mineiro, pesquisadores viajam por mil, milhares de anos passados. Das proximidades da capital, percorrem um longo túnel do tempo até Fonseca, na Zona da Mata, onde foram encontrados fósseis de plantas e pequenos insetos, datados de cerca de 37 milhões de anos. E chegam a Peirópolis, no Triângulo Mineiro, onde surgem vestígios de dinossauros e crocodilos, que teriam vivido há mais de 70 milhões de anos, resgatados por pesquisadores, que garimpam as mais antigas riquezas das Minas Gerais.




O sítio arqueológico Lapa do Santo, zona rural de Matozinhos, na Grande BH, 12 novos sepultamentos podem confirmar o que o pesquisador e bioantropólogo Walter Neves, coordenador do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da Universidade de São Paulo (LEEH/USP), antevia há exatos três anos, quando iniciou os trabalhos na região de Lagoa Santa: a trilha dos “parentes” de Luzia, considerada a primeira brasileira e o primeiro fóssil humano das Américas. Em 1975, seu crânio foi descoberto em Lapa Vermelha, entre Lagoa Santa e Pedro Leopoldo, a 36 quilômetros da capital. Datações revelaram a idade do achado: entre 11 mil e 11,5 mil anos.

“Ela não está sozinha. Estou em busca do seu grupo”, afirmou Neves, ao ESTADO DE MINAS, em 2002, quando disse que quem quisesse estudar os fósseis dos primeiros habitantes da América teria que “comer na mão” de Minas Gerais. Segundo ele, embora existam evidências da presença humana há 11,5 mil anos, os abrigos só começaram a ser habitados por volta de 9,5 mil anos atrás. “Acreditamos que, de 11,5 mil a 9,5 mil anos atrás, havia apenas pequenos grupos perambulando pela região, mas que não habitavam o Carste de Lagoa Santa. A arqueologia é uma ciência lenta e a maior parte do material que retiramos dos sítios arqueológicos e paleontológicos não foi processada. Precisaremos de mais alguns anos para testar melhor nossas hipóteses sobre quem eram e como viveram esses primeiros humanos”, diz.

“Os sepultamentos e as evidências arqueológicas na Lapa do Santo indicam uma ocupação bastante densa, e abrem a chance de traçarmos novas hipóteses sobre a região”, explica o professor e arqueólogo Renato Kipnis, que ao lado de Neves, é um dos coordenadores do projeto “Origens e Microevolução do Homem na América”, desenvolvido pela USP em Minas.

Distante geograficamente de Lagoa Santa, e também nos milhares de anos de idade de cada achado, o Triângulo Mineiro revela novas facetas dos dinossauros que vagavam pelo Estado há cerca de 70 milhões de anos. “Há 15 dias, descobrimos fósseis de costelas que chegam a quase um metro de comprimento, indicando que o dinossauro tinha enormes feixes musculares no pescoço, o que nos leva a crer que pertençam a um carnívoro, de grande porte”, diz o paleontólogo e diretor do Centro de Pesquisas Llewelyn Ivor Price, Luiz Carlos Borges Ribeiro. Para o professor da Universidade Federal de Minas Gerais e diretor do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas Cástor Cartelle, as descobertas são fantásticas, mas os locais, bem como outras áreas de Minas Gerais, como Peruaçu, Montalvânia e Itacarambi, no Norte do Estado; Pains e Arcos, no Centro-Oeste; e Fonseca, na Zona da Mata, que guardam fósseis paleontológicos (relativos ao estudo de fósseis de animais e vegetais pré-históricos) e vestígios arqueológicos (relativos à pesquisa da ocupação humana em períodos distintos da história), devem ser preservados com uma política pública mais integrada e firme.

 

“Não há plano de preservação. O Sumidouro (em Lagoa Santa) está sendo depredado. Denuncio isso desde 1990 e ninguém faz nada. Temos ali vestígios de pinturas nas rochas e das primeiras ocupações humanas, mas o local está cheio de pichações e a ocupação desordenada avança. Tudo ilegal, em monumento de valor científico e histórico inigualável”, critica.

Tesouro exposto à depredação

Segundo o geomorfólogo Luis Piló, conselheiro da Área de Proteção Ambiental (APA) Carste de Lagoa Santa, os sítios paleontológicos e arqueológicos brasileiros são protegidos por lei, mas não há gestão que lhes dê integridade. “Precisamos de articulação dos poderes federal, estadual, municipal e da comunidade”, diz. Na semana passada, a Prefeitura de Matozinhos promoveu o I Fórum da APA Carste, que levantou questões sobre como conciliar desenvolvimento econômico, ocupação humana e o patrimônio natural pré-histórico.

Cartelle conta que os momentos que marcaram a busca por vestígios da pré-história mineira remontam à época em que o dinamarquês Peter Lund fez seus primeiros achados, ainda no século XIX; a meados do século passado, quando o grupo da Academia Mineira de Ciências (fazendo referência a Harold Walter, Josaphat Penna, Arnaldo Cathoud e Anibal Mattos) escavou e levantou pinturas rupestres em Minas; e à década de 70, quando a expedição franco-brasileira capitaneada pela arqueóloga Annette Laming-Emperaire encontrou o crânio mais tarde batizado “Luzia”.



  • O dinamarquês Peter Lund (1801-1880) descobriu na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, vestígios de presença humana de mais de 10 mil anos. Quase dois séculos depois dos achados do pai da arqueologia brasileira, novas descobertas são feitas em terras mineiras. Desta vez, a área escavada fica mais a oeste, a quase 200 quilômetros de Belo Horizonte. Cerâmicas, adornos e pontas de flechas de até 11 mil anos compõem o acervo do recém-criado Museu Arqueológico do Carste do Alto São Francisco (MAC), na cidade de Pains, centro-oeste do estado.

    A região do Carste do Alto São Francisco é formada por oito municípios e tem cerca de 230 sítios arqueológicos. A grande formação calcária do local, chamada carste, ajudou a conservar quase intactas as peças deixadas ali por povos antigos. De acordo com Gilmar Henriques, idealizador e diretor do MAC, os objetos encontrados ao longo de mais de 10 anos de pesquisa estavam em cavernas, em abrigos formados por rochedos e até mesmo a céu aberto.

    Entre as 200 peças do museu está um vaso de 40 centímetros de diâmetro, em forma de cálice. “Devia ser uma oferenda, porque foi encontrado junto a um grande sepultamento. Ainda não fizemos a datação, mas acredito que tenha de 500 a dois mil anos”, afirma o diretor do MAC. Há também uma série de adornos feitos em osso. Entre eles, colares com pingentes de conchas coletadas nos rios da região, onde antigamente havia mariscos. Uma coleção de 70 pontas de flechas com idades de oito a 11 mil anos completa o acervo.

    O material encontrado pertencia a dois povos. O mais antigo deles era formado por caçadores-coletores. Eles viveram entre oito e 11 mil anos atrás e foram descobertos pela equipe de Henriques. Já os habitantes mais recentes eram ceramistas e viveram de 400 a dois mil anos atrás. “Acreditamos que os ceramistas falavam uma língua do tronco Macro-Jê. Há cerâmicas similares no leste de Minas Gerais, onde estão os índios krénak e macaxalís, que falam línguas pertencentes ao tronco”, diz o coordenador do MAC.

    A origem dos povos de língua Macro-Jê ainda é hipotética. Segundo Henriques, há arqueólogos que não acreditam na associação baseada no estilo das cerâmicas. Apesar de a polêmica quanto ao tronco linguístico não diminuir o valor das descobertas, não é todo mundo que se preocupa com o patrimônio arqueológico local. “Encontramos uma caverna completamente destruída pela mineração clandestina. Poderia ter peças lá, já que quase todas as cavernas foram ocupadas por esses povos”, lamenta Henriques. A equipe do museu tem muito trabalho pela frente. Além de mostrar a importância dos achados para a população, ainda falta registrar cerca de 30 sítios no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)